sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Mulheres sem nome (lilac girls)

 Há muito tempo, que um livro não me captava a atenção desta forma. Há muito tempo, que não passava uma tarde de domingo a ler, deixando para trás outras tarefas (soube mesmo bem). Há muito tempo, que não estava ansiosa por um intervalinho nas muitas "cenas" que tenho para fazer, só para ler mais umas páginas. Há muito tempo que, enquanto fazia outras coisas, não ficava a pensar no que tinha lido na véspera. Não há dúvida de que  sou uma leitora (um dia ainda será profissão, devidamente reconhecida e remunerada, ah pois é). Mas, falando do livro, a ação decorre durante e após a segunda guerra mundial. A história é baseada em factos (infelizmente) reais e é o resultado de um exaustivo trabalho de pesquisa feito pela autora (o tipo de trabalho que fiz durante um ano... "apenas" o melhor ano de toda a minha vida profissional). 
Durante a invasão da Polónia, muitas mulheres foram feitas prisioneiras e enviadas para o campo de concentração nazi, em Ravensbruck. Neste grupo, estão duas irmãs e a sua mãe. Embora as irmãs trabalhassem para a resistência, eu acho que esta detenção foi feita aleatoriamente. Hitler estava decidido a eliminar todos os que não fossem arianos e as rusgas para prender as pessoas eram feitas assim ... como acontece ainda em tantos países. No campo de concentração, estas mulheres foram sujeitas a experiências médicas, verdadeiramente abjetas. As que conseguiram sobreviver a este horror, ficaram conhecidas como as "coelhas", pela forma como se deslocavam depois das experiências e por terem sido usadas como cobaias. Isto aconteceu mesmo. Uma das responsáveis por isto foi a médica nazi Herta Oberheuser. Segundo os relatos, era de uma crueldade extrema ... só poderia ser, para fazer o que fez. Muito depois do final da guerra, foi identificada e foi-lhe retirada a licença para exercer medicina. Esta carrasca, ficou presa apenas durante cinco anos! Como é que é possível? Durante o seu julgamento em Nuremberga, nunca se mostrou arrependida do que tinha feito. E depois de ter saído, prosseguiu a sua vida, como médica de família, vivendo no conforto. Isto, enquanto as suas vítimas lutavam para que lhes fosse paga uma indemnização (só em 1964 é que o governo da Alemanha Ocidental o fez). A protetora do grupo das "coelhas" e que tudo fez para que tivessem uma vida digna, foi uma  socialite americana, Caroline Ferriday, que era voluntária no consulado de França em Nova Iorque. Caroline era uma espécie de benfeitora dos orfanatos franceses. Os nazis permitiam e encorajavam os donativos aos orfanatos, porque isso significava menos despesa para eles ... bom, fiquei a pensar se, de facto, se importariam minimamente com os órfãos franceses. Caroline acaba por se cruzar com a história das "coelhas" e faz desta, uma das causas da sua vida. Assim, a sua história entrelaça-se com a história das duas irmãs e a de outras sobreviventes do campo de concentração. Mais não conto porque não gosto de estragar as leituras dos outros. A narrativa tem um bom ritmo e a leitura flui. Já li tanto sobre este período tão negro da história e fico sempre abismada com a crueldade das pessoas quando lhes dão rédea solta. Por outro lado, é tão difícil por as pessoas boas em movimento, é tão difícil haver justiça para as vítimas. Sim, porque a Polónia, depois da ocupação nazi, foi ocupada e martirizada pela União Soviética. A (desu)humanidade em todo o seu esplendor. 

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